Eduardo Marinho


Agora afirmam que a humanidade está destruindo o planeta. Socializam a responsabilidade. A natureza está sendo destruída, é verdade. Mas uns poucos destroem muito mais que a maioria. São os que estão por trás de grandes bancos, mineradoras gigantes e mega-poluentes, monstros da construção, barragens e transposições desastrosas ao meio ambiente e às populações locais, indústrias produtoras de descartáveis, que se tornam lixo tóxico de longa duração, indústrias químicas, as mais diversas, com resíduos contaminantes, sem falar nas assustadoras usinas nucleares, cujo lixo radioativo nós ainda não temos como tratar. E vêm dizer que quem está destruindo o planeta é o “ser humano”.

São esses poucos quem decide essa realidade, escondidos atrás e acima do poder aparente, o político. Investem nas campanhas eleitorais e têm os políticos como seus representantes no Estado; cooptam carreiras jurídicas, impõem seus protegidos aos cargos-chave da nação. Controlam as instituições públicas e, por extensão, os investimentos públicos. Educação, saúde, transportes, moradia, segurança, saneamento, cultura, informação, tudo é decidido de acordo com os interesses daqueles dominantes, menos de 0,5% da população. Daí a falta de decência dos serviços públicos, a aparente “incompetência” dos governantes e políticos em geral. Na verdade, estes são muito competentes, para o que foram realmente eleitos – e é claro que não o foram pra cumprir suas promessas de campanha.

Por isso o povo precisa estar alienado no processo, precisa acreditar que o poder político é o verdadeiro e não perceber porquê minorias desfrutam privilégios, ostentações e desperdícios, enquanto seus direitos, garantidos na própria Constituição do Estado, são negados pelo próprio Estado, sempre em benefício de empresas, enriquecendo mais os empresários que o controlam. É a contenção do “custo social”. Tudo em benefício das empresas, tanto maiores benefícios quanto maiores forem as empresas – para a população, as despesas cenográficas, os restos e os custos. E aos que não se contentam, a segurança pública. Todas as forças de segurança, militares ou não, em última análise, servem aos interesses empresariais e à contenção dos pobres. E a mídia privada ataca, em histeria raivosa, todo movimento popular que denuncie, reivindique ou conscientize.

Aliás, a mídia é o selo de ouro do esquema de controle social, a garantia de uma população infantilizada, superficializada, desinformada, conduzida a um modo de vida massacrante, frustrante, desumano. Com a destruição do ensino público, sem instrução, a maioria se deixa levar, desarmada de qualquer senso crítico, sem perceber que sua miséria, seu sofrimento, sua angústia, são o que sustenta esse sistema criminoso, essa brutal diferença entre os mais pobres e os mais ricos. As classes médias sofrem o assédio da publicidade frenética, direta e indireta, gerando valores sociais, desejos de consumo, objetivos de vida, tudo planejado e imposto de todas as maneiras por interesses de domínio, lucro e poder. Valores mesquinhos, consumos e entretenimentos narcotizantes e uma vida vazia de sentido.

Em suas ilhas e bolhas de luxo, excessos e ostentações, poucas pessoas escolhem a barbárie social e a impõem aos governos e aos povos, com suas corporações financeiras e transnacionais gigantescas, empresas “esmagadoras” que extraem o sangue e deixam só o bagaço. Isso lhes garante mais ganhos, mais poder, mais riquezas, enquanto a maioria é roubada em seus direitos e levada a uma existência sem dignidade, sem instrução, sem informação, sem acesso ao pleno desenvolvimento das suas potencialidades. Ao contrário, é levada a sustentar essa estrutura com os comportamentos, valores, desejos e objetivos impostos pela parafernália midiática.

Somos forçados a participar e contribuir com essa estrutura e mesmo sustentá-la. Pela indução, aproveitando a falta de instrução, de formação e de informação, pela imposição de valores sociais e pessoais, a partir mídia corporativa e pela pressão, psicológica ou física – quando as forças de segurança dão a última “palavra”.

Não posso respeitar uma sociedade estruturada dessa forma. Preciso questionar cada valor social e meu próprio, preciso duvidar de cada informação trazida por essa mídia privada/safada. E quanto mais ela se dedica a um assunto, mais desconfio dos interesses ocultos dos poderosos da sociedade.

A escravidão predominante de hoje é feita com correntes preparadas com mentiras, e nós as fazemos fortes acreditando nelas. Moldamos os valores, os comportamentos, os desejos, os objetivos de vida, nos baseando em mentiras – daí tanta angústia, tanta frustração e tanto desequilíbrio. Quando formos percebendo isso, vamos desacreditar e as correntes serão rompidas. Seu descrédito é a ferrugem que a corrói. O processo está em curso, mais e mais pessoas, a cada dia, se dão conta de que estão sendo enganadas. Que ninguém se iluda, é um processo longo e lento, embora incontrolável – mesmo com todo o aparato de controle. Participar dele é dar sentido à vida, na direção de uma vida menos insatisfeita e uma sociedade que, afinal, possa merecer com justiça o título de humana.



Assist o Video e Pense... Pense.... Pense... e não se esqueça de Agir, Agir, Agir!!!!!

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Enfim o projeto existencial

A angústia de ter um sentido. A obra que iremos realizar. No decorrer de nossa existência criamos inúmeros projetos. Isto porque o projeto é uma construção constante, e só termina com a morte.

Em alguns momentos nos enterramos devido a um único projeto, mas esquecemos que não há vida sem sentido, nem existência sem projeto, por isso ele não pode ser único.

Ele envolve nossa liberdade de escolha, nosso estar só, e o reconhecimento da nossa finitude. Ele nos acompanha do início ao fim de nossa existência. Mesmo porque, como nos disse Carl Rogers:

A grande obra do ser humano é a construção da existência.

 
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